A MEDIAÇÃO COMO FORMA DE REDUÇÃO DA VIOLÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO

ABREU, Patrícia Bitencourt de Souza[1].

patríciabitencourt@hotmail.com

FARIA, Adriano Antonio[2]

adriano@edusol.com.br

RESUMO

O objetivo deste artigo consiste na análise da violência ocorrida no ensino superior nas relações professor-aluno, professor-comunidade e aluno-comunidade, assim como no estudo da mediação como forma de suplantar esta problemática. Questiona-se se a mediação pode ser utilizada, consoante suas bases teóricas, no ensino universitário, como forma de solucionar conflitos iminentes, assim como se o método é eficaz na prevenção de fatos violentos, abrangendo conceitos como violência física, psicológica e ideológica. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica que traz conhecimentos pedagógicos e conceitos jurídicos a respeito do tema em comento. O texto revela questões pertinentes à violência e à mediação educacional de forma crítica e reflexiva. Neste contexto, demonstra-se o desafio da releitura da aprendizagem e da necessidade da aplicação da mediação na educação superior, de forma a ser exercida em escala decrescente no ensino – da instrução superior à educação básica, com o fim de diminuição da violência entre os atores da relação educacional e a comunidade. Além disso, é realizada a análise da importância do estudo deste instituto como base para uma mudança paradigmática no comportamento humano, abarcando a pacificação social.

Palavras-chave: Violência. Mediação. Ensino Superior. Educação.

  1. 1. INTRODUÇÃO

A seleção do tema “A mediação como forma de redução da violência no Ensino Superior Brasileiro” adveio da condição de conciliadora que a autora perseguiu durante sete anos, corroborado pelo fato de ser acadêmica do curso de Especialização em Metodologia do Ensino da Educação Superior da UNINTER, onde passou a ter contato direto com os conteúdos, objeto deste trabalho. É crível que as primeiras manipulações conteudistas serviram para instigar mais ainda a necessidade de se compreender as razões do aumento de conflitos nas instituições de ensino superior, estudando possíveis formas de solução para a problemática. Partindo deste preceito, descobriu-se que a mediação vem sendo estudada, tanto no âmbito educacional como nas demais áreas do conhecimento, como resposta ao paradigma atual da adversariedade, do conflito, da judicialização dos problemas, à atual diminuição da capacidade de diálogo complexo – que resolve conflitos surgidos na sociedade.

A questão que surge, enfim, é observar se este método pode ser utilizado consoante suas bases teóricas, ou seja, se sua aplicabilidade é possível no âmbito universitário. Assim, a busca principal neste trabalho consiste no encontro de um procedimento que relate processos mais humanitários na resolução de conflitos, questionando se a mediação é eficaz na diminuição da violência nas relações professor-aluno, professor-comunidade e aluno-comunidade.

O trabalho trata-se de uma pesquisa bibliográfica. O marco teórico adotado decorre das fontes de conhecimento disponíveis no Brasil, perpassando pelas doutrinas, materiais literários específicos, páginas da internet utilizadas (como os sites www.webartigos.com, www.istoe.com.br e http://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:P%C3%A1gina_principal) e literatura em geral. O universo deste trabalho busca atingir os profissionais que atuam na área da Educação e, em especial, os discentes. É mister que se adotem as metodologias descritivas, culminando com análises comparativas entre o atual sistema e as mudanças paradigmáticas que possam advir da pesquisa. Nele se buscar provar ou negar a hipótese de que a mediação se trata de um instituto atual, verificando os requisitos como simplicidade, acessibilidade e técnicas de aplicação.

O trabalho, além das partes necessárias, compreende três (3) subtítulos, pelos quais serão discutidas as inquietações relacionadas com as fontes de conhecimentos disponíveis, a fim de atingir seu universo de estudo, adequado pela metodologia aplicada nesta investigação, culminando com a conclusão. Será realizado um estudo acerca da violência nas instituições de ensino superior, analisando a atual conjectura e destacando-se dados estatísticos encontrados sobre o tema; pesquisa sobre a etimologia, o conceito e técnicas de utilização da mediação; assim com buscar-se-á formas de relacionar o instituto da mediação ao nível superior.

Estudar a violência no nível superior permite absorver suas diferentes razões com o fim de auxiliar a prevenir novos fatos sociais que venham a interferir negativamente nas relações de ensino neste importante nível de ensino.

  1. 2. A VIOLÊNCIA NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR

Os fatos ocorridos nas instituições de ensino superior refletem a estrutura social, política e econômica da comunidade na qual está inserida.  Assim, quando a entidade educativa está implantada em um contexto populacional violento, certamente espelhará este feitio em seu cotidiano.

A respeito da violência neste nível de ensino:

Ainda que admitamos que sejam elementos com características, motivos, implicações e significados diferentes, é possível dizer que tanto a violência quanto o Ensino Superior se tornaram comuns na sociedade. Entretanto, se pode dizer que aquela tem acompanhado o homem desde os seus primórdios, o mesmo não é possível dizer deste, que tem se popularizado recentemente. Contudo, tendo presente que ambos têm em comum a mesma base material, ao contrário do que muitos pensam e custam de admitir, também é possível dizer que, não só existe violência no Ensino Superior como faz parte de sua própria forma de organização, aparecendo umas vezes de forma mais aberta e escrachada outras vezes de forma sutil e dissimulada (Orso, 2003, p. 1).

Sobre as modalidades de violência encontradas no Ensino Superior (implícitas ou explícitas), Orso destaca:

Partindo do pressuposto de que vivemos numa sociedade de classes, na medida em que não a naturalizamos, também não é difícil de admitir que esta sociedade seja essencialmente violenta, tanto em termos de produção da própria violência, quanto na necessidade de gerar violência para garantir o controle social e reprimir os atos tidos como socialmente violentos, gerando assim, a chamada violência legítima, considerada um direito de e do Estado. Nesta modalidade, temos desde a violência policial até a bélico militar. Contudo, há outras formas de violência mais sutis produzidas com a ajuda da ciência, da psicologia, da ideologia e da burocracia que visam adequar os indivíduos ao status quo, torna-los dóceis, úteis e mais produtivos (Orso, 2003, p. 1).

A esse respeito, compreendem-se os conceitos de violência física, verbal (psicológica) e ideológica. As duas primeiras formas visíveis. A última, sutil, buscando, através de artifícios, a formação de indivíduos úteis, profissionais mais produtivos, menos questionadores – pessoas ativas – que estejam sempre dispostas a fazer mais mercadorias, bens ou serviços.

A violência física e verbal que urge no ambiente acadêmico costuma ser proveniente de fatores sociais e individuais (psicológicos). Este fato demonstra a falta de respeito comum entre os sujeitos envolvidos nas relações educacionais. O fato de denegrir a dignidade, o decoro ou características físicas está se tornando corriqueiro (consistindo as formas mais tradicionais a injúria, a calúnia ou a difamação). No seio educacional frequentemente ouvimos a expressão bullying para denominar os atos violentos praticados reiteradas vezes, geralmente contra alunos.

A respeito desse último, extrai-se a seguinte definição de Neto (2004), do site wikipedia:

Bullying (anglicismo, bullying, pronuncia-se AFI: [ˈbʊljɪŋ]) é um termo utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo (do inglês bully, tiranete ou valentão) ou grupo de indivíduos causando dor e angústia, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder[3].

Admoesta-se a respeito da violência, contudo, que o conflito é inerente à condição humana, conforme o entendimento de Berté (2009, p. 66), o qual prescreve que “Obviamente, o conflito é apenas uma das possíveis formas de interação entre indivíduos, grupos, organizações e coletividades. Uma outra forma possível é a cooperação”.

Quanto aos aspectos contraproducentes relacionados ao ensino superior, a própria seleção realizada antes de o aluno ingressar em uma universidade consiste em uma violência. Trata-se da proibição do acesso, pela maior parte dos estudantes, ao conhecimento, à formação neste nível de ensino. Nestes termos:

(…) Deste modo, uma vez que a universidade é parte integrante da sociedade, também acaba refletindo e reproduzindo aquilo que nela ocorre. Se apenas conjeturarmos que o conhecimento e a cultura que temos acumulado ao longo da história não foi produzida exclusivamente por um ou alguns “cérebros brilhantes”, isto já basta para caracterizar como violência a produção de instrumentos que impedem o acesso a ela e, consequentemente, aos benefícios gerados por elas, que são concentrados por alguns privilegiados em detrimento e negação à maioria. Ou seja, numa de suas formas a violência também se caracteriza como à negação do acesso aos conhecimento historicamente acumulados pela humanidade, garantindo, em parte, o acesso e a fruição de forma diferenciada dos bens produzidos pela humanidade. Em função disso, principalmente a partir do início da modernidade, tem se intensificado as lutas pelo acesso à educação, à escola pública e ao Ensino Superior. Em consequência dessa popularização, tem se gerado uma outra forma de violência que é a divisão da escola, criando-se uma, com determinadas condições e com determinada qualidade para a imensa maioria da classe trabalhadora e outra para os filhos das elites. Dessa forma acaba por reproduzir a própria estrutura social, com suas divisões, sua classes e seus privilégios (Orso, 2003, p. 2).

Pela atual conjectura social, as escolas são exigidas, para além de repassar conhecimentos científicos, a ensinar condutas – função que anteriormente era atribuída à família. Hodiernamente, seja pela grande rotina de trabalho seja pela desestruturação familiar, este encargo está sendo “despejado” nas costas dos docentes. Este processo envolve todos os níveis de ensino, posto que na educação superior encontram-se vários sujeitos em formação (adolescentes ou adultos), que muitas vezes não possuem comportamentos adequados exigidos em qualquer ambiente escolar. Assim sendo, os professores do ensino superior devem agir no sentido de suprir essa deficiência.

Sobre o tema, preleciona Araújo Júnior (2009, p. 1):

As universidades tem a necessidade de associar ao processo de ensino-aprendizagem não apenas os conteúdos (conhecimentos) que o aluno deverá obter de um conjunto de disciplinas, como comumente se faz, mas que sejam previstas quais ações ou que desempenho este aluno será capaz de executar com o desenvolvimento de habilidades e quais atitudes são desejáveis que o mesmo adote, considerando suas emoções e sentidos. Igualmente é importante trabalhar os valores, para ajudar o aluno a direcionar suas ações, conhecimentos e habilidades para aquilo que acredita ser viável e certo, respeitando os princípios éticos de sua profissão, ao atuar na sociedade (Araújo Júnior, 2009, p. 1).

Ante isso, os professores do ensino superior devem estabelecer em conjunto com os conteúdos programáticos regras comportamentais e valores que devem ser seguidos.

Nota-se que os números da violência permanecem aumentando. Comumente professores relatam casos de lesões verbais e danos contra bens pessoais, como veículos e celulares. Estas, além de outras lesões físicas, são praticadas tanto por alunos como pelos pais destes. O que ocorre, de fato, é que os professores não estão preparados para lidar com este tipo que questão. Hoje o aluno universitário ou de qualquer outro nível de ensino recebe um alto nível de informação fora do ambiente acadêmico, e acaba reproduzindo as atitudes vivenciadas dentro das instituições de ensino.

Este fator demonstra que não basta a instituição de ensino se preocupar apenas com o que acontece no interior de sua organização. Para a redução da violência, é preciso engajar a comunidade como um todo. Trazer os familiares dos alunos. Também se faz necessário que se propicie aos alunos maior acesso à educação (não somente ao ensino). Neste sentido, Orso (2003, p. 1) destaca que “(…) para termos uma outra universidade e novas relações em seu interior, não basta lutar contra a violência que ocorrem nela. É preciso lutar pela transformação da sociedade como um todo”.

Em artigo da revista IstoÉ (Professor, profissão perigo – aumentam os casos de agressão física e psicológica a docentes brasileiros nas escolas particulares e nas universidades) do mês de outubro do ano corrente,  encontramos a seguinte estatística quanto à violência nas relações de ensino[4]:

Pode-se observar que mais de 80% (oitenta por cento) dos professores brasileiros foram vítimas de agressões, e que estas acontecem tanto na rede pública como na rede privada de ensino. Tal estudo fora realizado englobando todos os níveis de ensino, posto que não existe estatística referente unicamente à violência praticada contra professores de nível superior.

Além da estatística acima, Rachel Costa cita em sua reportagem:

“Para tentar mudar as regras do jogo, até agora bem desfavoráveis ao professor, foi proposto um projeto de lei prevendo medidas protetivas para os casos de violência contra docentes (o PL 191 de 2009). O PL não foi bem aceito pelos congressistas e está encalhado”, critica o autor da proposta, o senador Paulo Paim (PT-RS). Situação semelhante acontece na vizinha Argentina. Por lá, a procura pela União dos Docentes Argentinos (UDA) para relatar casos de agressão contra professores cresceu 20% só no último ano. Preocupado, o órgão propôs um projeto de lei, mas, assim como no Brasil, a iniciativa também não foi adiante. “O Poder Executivo e o Congresso Nacional argentinos ainda não reconheceram o problema da violência contra os professores na escola”, disse à ISTOÉ Sérgio Romero, secretário-geral da UDA. E a questão não está restrita aos países em desenvolvimento. Na Inglaterra, pesquisa recém-divulgada pela Associação dos Professores registrou que um terço dos tutores e funcionários de escolas já havia tido contato com violência física dentro das instituições de ensino. Nos Estados Unidos, a Associação Americana de Psicologia montou em 2008 uma força-tarefa para pesquisar os impactos das agressões contra professores. Nos cálculos fechados pelo grupo, o problema custa aos cofres americanos US$ 2 bilhões por ano” (Rachel Costa, 2012, p. 2).

Pelo relatado, nota-se a falta de compromisso congressista com a análise da questão. Observa-se ainda que a violência no ensino não ocorre apenas no Brasil, sendo comum nos demais nos países do continente americano.

No caso específico das universidades, o professor deve estar atento às diversidades econômicas, sociais, de crenças e raciais, apresentando aos alunos a diferença como forma de conhecer e interagir com novas culturas. Estas dissemelhanças devem ser trabalhadas com o fim de coabitarem no mesmo espaço (contrária à ideia de dominação ideológica ou econômica vigente na maioria dos sistemas nacionais).

Neste sentido, Marcondes de Sousa Araújo Júnior entende:

Portanto trabalhar as diferenças é um desafio para a instituição de ensino e para o professor, uma vez que ele é o mediador do conhecimento, ou seja, um facilitador do processo ensino- aprendizagem. A busca constante de alternativas para trabalhar e respeitar às diferenças, tem o poder de transformar desigualdades em aprendizagem (Araújo Júnior, 2009, p. 1).

Assim, a educação superior possui forte cunho social transformador, devendo preparar não somente profissionais qualificados para o mercado de trabalho, mas cidadãos críticos e conscientes.

A questão surgida, a partir de todas as reflexões acerca da violência no sistema de ensino superior, era a aplicação de sistemas que auxiliassem na sua diminuição. Dentre os modelos examinados, encontramos a mediação, a qual será exposta adiante.

  1. 3. ENTENDENDO O CONCEITO DE MEDIAÇÃO

Quando se fala em mediação educacional, a primeira lembrança que temos é relacionada à mediação proporcionada pelo professor diante de elementos tecnológicos. Lembremos, contudo, que este trabalho é sobre relacionamentos humanos, mais especificamente entre os sujeitos da relação de ensino (professores, alunos, corpo técnico) e entre estes e a comunidade. Cumpre esclarecer, assim, que não se trata de mediação tecnológica. Além disso, o trabalho não é sobre mediação de signos, como ensina o psicólogo russo Lev Vygotsky[5], o qual afirma que os homens necessitam de signos para aprender. Neste sentido, Lakomy (2008, p. 40), ao falar da obra de Vygotsky, descreve:

(…) os instrumentos são mediações, como os signos da escrita, que servem para nos lembrar o que dizemos. Desse modo, os signos constituem um poderoso intermediário para a aprendizagem. É o que acontece quando anotamos compromissos (grifo nosso).

A mediação proposta neste trabalho deriva da própria semântica da palavra e até mesmo a mediação utilizada por juristas – que a fazem para tentar solucionar conflitos apresentados no âmbito judicial. O que se pergunta, portanto, é: Por que não aplicar este instituto na seara educativa? Feitas estas considerações iniciais, começaremos o estudo da mediação.

Partindo desse preceito, importante adentrar mais acuradamente na origem e no conceito do instituto mediação, sob pena de ficar fadada, em sua aplicação, a de instituto acéfalo. Para tanto, buscou-se a etimologia da palavra, encontrando (2) possibilidades de sua origem. A primeira afirma que deriva do vocábulo latino mediare; e a outra que provém do latim mediatione. Ambos com o significado mediar, intervir, intermediar. Já no dicionário Antonio Olinto (2000, p. 558) encontra-se o seguinte conceito para mediação: “ação ou efeito de mediar, intervenção”.

A partir destas afirmações, pode-se  dizer que a mediação consiste em um método não adversarial de solução de conflitos gerais ou de intervenção, pelo qual um terceiro auxilia pessoas a alcançarem, por si próprias, o resultado esperado, seja um acordo amigável, seja a obtenção de novos conhecimentos. Neste procedimento, o interventor apenas orienta as pessoas a chegarem ao seu objetivo.

Neste sentido, ensinam Highton e Gladyz, citados por M. del Val (2009, p. 72):

(…) La mediación es un procedimiento no adversarial en el que un tercero neutral, que no tiene poder sobre las partes, ayuda a éstas a que en forma cooperativa encuentren el punto de armonía en el conflicto. El mediador induce a las partes a identificar los puntos de controversia, a acordar sus intereses a los de la contraria, a explorar fórmulas de arreglo que transciendan el nivel de la disputa, a tener del conflicto uma visión productiva para ambas.

O mediador, utilizando técnicas, leva as partes a uma análise equilibrada da situação, permitindo, assim, um entendimento melhor da questão. Trata-se de um artefato que busca a permanência de uma relação harmoniosa no presente e no futuro, conduzindo, necessariamente, a uma aprendizagem e a uma transformação individual.

A mediação é importante nas relações sociais, posto que implica na maior responsabilidade social que quem participa deste modelo (seja como aplicador ou como usuário), demonstrando a importância do diálogo para resolver conflitos, associado ao fato de que ajuda na redução da violência advinda da falta de confabulação entre pessoas que se relacionam afetivamente, socialmente ou profissionalmente.

Para o uso da mediação no ensino superior, mister que o educador disponha de técnicas para o seu uso. Desta feita, as práticas devem ser apreendidas e desenvolvidas nos cursos de licenciatura e nos cursos que capacitam ou aprimoram docentes.

Dentre as habilidades a serem trabalhadas nos mediadores, destacamos as 16 características apontadas por Morais:

1) paciência de Jó; 2) a sinceridade e as características do bulldog de um inglês; 3) a presença de espírito de um irlandês; 4) a resistência física de um maratonista; 5) a habilidade de um half-back de esquivar-se ao avançar no campo; 6) a astúcia de Machiavelle; 7) a habilidade de um bom psiquiatra de sondar a personalidade; 8) a característica de manter confidências de um mudo; 9) a pele de um rinoceronte; 10) a sabedoria de Salomão; 11) demonstrada integridade e imparcialidade; 12) conhecimento básico e crença no processo de negociação; 13) firme crença no voluntarismo em contraste ao ditatorialismo; 14) crença fundamental nos fatores humanos e potencial, temperado pela habilidade, para avaliar fraquezas e firmezas pessoais; 15) docilidade tanto quanto vigor; 16) desenvolvido olfato para analisar o que é disponível em contraste com o que possa ser desejável suficiente capacidade de conduzir-se e ego pessoal, qualificado pela humildade (Morais, 1999, p. 153).

Além dessas características, pode-se acrescentar: ser neutro; controlado em seus sentimentos; esforçado; ser discreto, manter o sigilo de questões particulares apresentadas; proibir manifestações ofensivas durante os diálogos; ser positivos frente aos assuntos apresentados; proporcionar a mudança no ponto de vista entre conflitantes; facilitar o entendimento entre as pessoas; ser ético; proporcionar a reflexão sobre os fatos apresentados.

Absorvendo essas posturas, o professor pode servir como mediador de questões conflituosas entre alunos; o coordenador pedagógico, como mediante de questões entre professores e alunos. Além do que podem ainda trabalhar questões litigiosas entre estes e a comunidade.

  1. 4. A   MEDIAÇÃO APLICADA AO ENSINO SUPERIOR

O ensino superior, seara de criação de ciência e de modificação das estruturas sociais, políticas, econômicas e culturais, deve ser o cerne de produção de novas mentalidades. Sobre esse nível de ensino:

A proposta de uma educação voltada para a diversidade coloca aos docentes de nível superior o grande desafio de estarem atentos às diferenças econômicas, sociais e raciais e ainda buscarem o domínio de um saber crítico que permita interpretá-las. Morin coloca que a instituição superior pode proporcionar o acesso a várias opções diferentes, apresentando culturas alternativas aos estudantes, como pode limitar e dirigir esse acesso (Araújo Júnior, 2009, p. 1).

Questão importante a ser desenvolvida então, diante da grande violência existente contra professores, é a construção de uma cultura de solução pacífica de conflitos, através do diálogo.

Outros valores a serem debatidos envolvem valores e a cultura vigente. Na atual sociedade da informação, os dados absorvidos são fragmentados. Esta somatória de conhecimentos gera o profissional que o mercado almeja hoje, pronto para solucionar os mais diversos problemas surgidos de forma célere, ou seja, o ser humano não deixa de ser um produto do capitalismo ou do sistema ideológico vigente em sua sociedade. A esse respeito:

Dada a pressão do mercado, o que antes se compreendia como ensino superior – momento de aprender a lidar com a teoria como ferramenta de compreensão do mundo, inclusive do trabalho, por meio do ensino, da pesquisa e da extensão – tende a ser substituído por orientações (inclusive legais) mais imediatistas e utilitárias. Kuenzer (2002b) chama esse modelo de universidade “operacional”, ou seja, aquela que é premida a abrir mão de desenvolver a pesquisa e que tende a se dedicar somente ao ensino (Suhr e Silva, 2010, p. 56).

Ressalte-se ainda que nos últimos anos foram se excluindo dos programas escolares as disciplinas como Educação Moral e Cívica e OSPB. Embora estas disciplinas fossem utilizadas como fontes de dissipação da ideologia ditatorial[6], admoesta-se que, na atual sociedade, deveriam ser reinseridas de forma repaginada, para oportunizar os alunos conhecimentos de valores de cidadania que estão desaparecendo inclusive das famílias brasileiras. Inserir estas disciplinas ou outras, com a finalidade de promover a mediação entre a escola e a família, entre o aluno e o Estado, relacionados intimamente com conceitos políticos, culturais, iniciação de valores e formação de caráter.

Para isso, imprescindível que este conhecimento surja de maneira decrescente, a partir do ensino universitário para os demais níveis de ensino. Através disso, os licenciados, devidamente capacitados, repassarão as informações necessárias às crianças e aos adolescentes.

Através da mediação educacional o professor transfere ao aluno a responsabilidade e o controle da solução dos conflitos existentes na escola e em relação a esta. No ensino superior, o adulto terá este encargo, que provoca a solução racional, interativa e serena necessária a paz social que a sociedade tanto almeja.

Quanto as questões, todas devem ser voltadas à relação professor-aluno-conhecimento e em relação ao discente com a comunidade e com a sua família. Os dissídios devem ser colocados sempre denotando a visão positiva – o conflito pode propiciar o desenvolvimento do homem no âmbito de sua própria humanidade. A capacidade de resolver questões é própria deste indivíduo. O ensino precisa ser reconstruído de modo crítico e operacional.

Referente às articulações ocorridas na relação mencionada acima se tem que:

A partir das relações que estabelecem entre si, os homens criam padrões de comportamento, instituições e saberes, cujo aperfeiçoamento é feito pelas gerações sucessivas, o que lhes permite assimilar e modificar os modelos valorizados em uma determinada cultura. É a educação, portanto, que mantém viva a memória de um povo e dá condições para a sua sobrevivência. Por isso dizemos que a educação é uma instancia mediadora que torna possível a reciprocidade entre indivíduos e sociedade (Aranha, 1996, p. 15, citado por Suhr e Silva, 2010, p. 23).

Lembre-se que, há algumas décadas, os pais comumente tinham mais de seis filhos, o que, por si só, impunha maior responsabilidade entre as crianças. Com a ocupação de tempo dos pais e com o número menor de filhos, muitos genitores acabam por ceder às vontades das crianças, esquecendo que a imposição de limites e o “não” são importantes para a formação do cidadão. Além disso, com os novos paradigmas, a educação não cabe somente à família, e também a escola. Neste sentido, as universidades ingressam como importantes aliadas, posto que elas que formam os profissionais que vão atuar com o ensino em todas as instâncias, relembrando que este papel é o de formar pessoas autônomas, reflexivas e livres.

A própria transmissão de saberes envolve a negociação entre docentes e alunos. A função do professor é educar. E educar nada mais é do que dar desenvolvimento amplo ao corpo e ao espírito. Os universitários devem ser formados não somente no âmbito científico, mas também na dimensão humana, filosófica, política e histórica.

Destaca-se aí a importância de esclarecer os vínculos e relações entre o projeto da democracia, num âmbito social, e o da cidadania, num âmbito individual; cumprindo resgatar e compreender, ainda, o papel mediador da educação, com sua perspectiva teleológica e seus condicionantes históricos e sociais (Silva e Grezzana, 2009, p. 114-115).

Neste contexto, a mediação nas instituições de ensino superior consiste em um meio que pode transformar culturalmente a sociedade, de dentro da instituição para a comunidade, de forma expansiva e ampla.

  1. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No limiar conclusivo sobre o tema estudado se realizou avaliação, no contexto nacional, a respeito da violência no ensino superior, assim como a mediação realizada pelo corpo docente como possível forma de redução desta problemática.

A violência no ensino superior é vislumbrada como um reflexo da sociedade em que as instituições de ensino estão inseridas. O que se vê mais comumente são práticas de violência física e verbal ocorridas entre os alunos, entre os discentes e seus professores, bem como entre os atores da relação educacional e a comunidade (incluindo os familiares dos alunos). Outro índice corriqueiro é a prática de danos materiais em detrimento aos objetos pessoais dos sujeitos mencionados.

Também se encontra a violência estabelecida de forma ideológica, pregada pelos sistemas político e econômico vigentes, fixando um modelo de ensino que prioriza, historicamente, a formação do homem apenas para o mercado de trabalho, além de limitar o acesso ao ensino superior apenas a uma minoria da população.

A mediação ingressa neste contexto como método de resolução de conflitos pelo qual um terceiro imparcial ajuda as pessoas a encontrarem a harmonia em determinados tipos de dissídio. São apresentadas a etimologia, o conceito e habilidades que devem ser desenvolvidas nos docentes. Este procedimento valoriza a boa conversa em contraponto à violência.

No ensino superior, a mediação pode servir como novo paradigma voltado à promoção do diálogo como forma de pacificação social, construindo-se uma cultura de solução harmoniosa de conflitos. Seguindo esta orientação, demonstra-se que as instituições de ensino superior devem ensinar não apenas conteúdos programáticos, mas também valores, capacitando pessoas críticas e reflexivas sobre o mundo que as cercam, assim como aptas a modificar positivamente a realidade em que vivem.

Esse estudo levou a indagação do por que deste instituto ainda não serem efetivamente aplicado nas instituições de ensino superior. A inquirição estimulou a investigação sobre os motivos históricos que justificam esta lacuna de exercício mediador. Restou demonstrado que a mediação ainda não se solidificou como cultura em nossa nação – cultura da pacificação social. Talvez, pelo errôneo costume positivista e pelos hábitos ministrados nas faculdades e universidades.

Com a evolução tecnológica, a informatização, a rapidez das comunicações e o acesso facilitado ao conhecimento, a sociedade brada por modelos que acompanhem o ritmo ditado pela globalização. O que se vê, em um contexto global, é a mediação aparecendo timidamente para solucionar conflitos.

Os professores precisam ter ciência de que na sala de aula possuem influência (a qual deve ser exercida didaticamente) sobre a formação das pessoas, podendo modificar comportamentos, formas de atuar profissionalmente e de modo de observar o sistema vigente de maneira crítica e com cidadania.

A mediação deve ser tida como novo paradigma social na solução de conflitos, possibilitando maior responsabilidade pessoal (em oposição à obrigatoriedade estatal), propiciando a ação positiva na transformação da sociedade, educando as pessoas para a tolerância, respeito, diálogo valores humanos, produzindo conhecimentos relativos à maturidade e felicidade. Deve-se desenvolver a tradição da solução pacífica dos conflitos.

A docência necessita adquirir cunho mediador, integralizada à sociedade, contextualizada com os fins humanos, políticos, econômicos e culturais. Temos ciência que a mediação não é a “salvação” da educação, mas consiste em um importante instrumento que auxilia a resolução da problemática comunicacional e na redução de condutas violentas.

Desta feita, a autora tem ciência de que não esgotou o tema em comento. Todavia, a procura pelas definições a respeito das formas humanizadas de resolver conflitos educacionais foi buscada em todos os referenciais atualizados e disponíveis. Obviamente que a inserção pessoal da autora, advinda de sua experiência profissional e de estudante do Curso de Especialização em Metodologia do Ensino da Educação Superior da FACINTER poderá resultar em teses mais autênticas quanto à elucidação do tema perseguido neste trabalho.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO JUNIOR, Marcondes de Sousa. A relação pedagógica entre professores e alunos no ensino superior. Estudo de Caso. Web artigos, de 29 de outubro de 2009, disponível em <http://www.webartigos.com/artigos/a-relacao-pedagogica-entre-professores-e-alunos-no-ensino-superior-estudo-de-caso/27168/>, acesso em 20 de outubro de 2012.

BERTÉ, Rodrigo. Gestão socieoambiental no Brasil. Curitiba: Ibpex, 2009.

COSTA, Rachel. Professor – profissão perigo. Aumentam os casos de agressão física e psicológica a docentes brasileiros nas escolas particulares e nas universidades. Revista Isto É, São Paulo. Edição 2214, de 13 de abril de 2012, disponível em <http://www.istoe.com.br/reportagens/198947_PROFESSOR+PROFISSAO+PERIGO>, acesso em 17 de outubro de 2012.

DEL VAL, Teresa M. Mediación en materia penal. Buenos Aires: Editora Universidad, 2009.

LAKOMY. Teorias Cognitivas da Aprendizagem. 2ª ed. rev. e atual. Curitiba: Ibpex, 2008.

MORAIS, Jose Luis Bolzan de. Mediação e Arbitragem: Alternativas à jurisdição! Com colaboração de Anarita Araújo da Silveira, Adriano Luis de Araújo. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1999.

OLINTO, Antônio. Minidicionário Antonio Olinto da língua portuguesa. São Paulo: Objetiva, 2001.

ORSO, Paulino José. A violência no Ensino Superior. Grupo de Estudos e Pesquisas “História, Sociedade e Educação no Brasil” – HISTEDBR, Faculdade de Educação UNICAMP, 2003, disponível em <http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/artigos_pdf/Paulino_Jose_Orso_artigo.pdf>, acesso em 24 de novembro de 2012.

ROCHA, Carlos Alves. Mediações tecnológicas na educação superior. Curitiba: Ibpex, 2009.

SUHR, Inge Renate Fröse e outra. Relação Professor-Aluno-Conhecimento. Curitiba: Ibpex, 2010.


[1] Aluna do curso de Especialização em Metodologia do Ensino da Educação Superior da FACINTER e Doutoranda em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidad del Museo Social Argentino – UMSA. Artigo apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso, no Curso de Metodologia do Ensino da Educação Superior da FACINTER.

[2] Professor Orientador, Mestre em Educação e Doutorando em Educação pela Universidade Tuiuti do Paraná. Formou-se em Filosofia, Marketing e Pedagogia; pós-graduação em Metodologia do Ensino na Educação Superior, Especialização em EAD, Formação de Docentes e de Orientadores Acadêmicos em EAD e também, MBA em Planejamento e Gestão Estratégica, pela Faculdade FACINTER – Curitiba – PR.

[3] Texto extraído do site http://pt.wikipedia.org/wiki/Bullying, acesso em 26 de novembro de 2012.

[4] Fonte: revista, IstoÉ, edição 2214, de 13 de abril de 2012, disponível em <http://www.istoe.com.br/reportagens/198947_PROFESSOR+PROFISSAO+PERIGO>, acesso em 17 de outubro de 2012.

[5] Vygotsky (1896-1934), pensador bielo-russo, desenvolveu trabalhos nas áreas de linguística, de psicologia, de antropologia, de sociologia, de filosofia e de artes. Foi pioneiro na afirmação de que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função de interações sociais e condições de vida. Tal pensamento influenciou imensamente a educação escolar russa e mundial.

[6] Sobre o ensino da História no período da ditadura no Brasil, vide o site http://www.ebah.com.br/content/ABAAAeo9wAB/ensino-historia-durante-a-ditadura-no-brasil.

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